tag:blogger.com,1999:blog-78490927486912814972024-02-19T22:46:13.443-03:00Observatório de PiratiningaUrbi et orbe. Anotações sobre a cidade, a política, a literatura, a arte, a religião e a ciência.Tibiriçá Ramagliohttp://www.blogger.com/profile/00935626810886445109noreply@blogger.comBlogger693125tag:blogger.com,1999:blog-7849092748691281497.post-73687074029559121692013-02-23T08:48:00.001-03:002013-02-23T08:48:34.161-03:00Geração PTÉ com tristeza e preocupação que acompanhei as milícias fascistas do PT et caterva perturbarem a estadia de Yoani Sanchez no Brasil. São provavelmente os mesmos canalhas que acompanharam Genoíno quando foi votar nas últimas eleições, para "protegê-lo" da imprensa e dos cidadãos. Protegê-lo de jornalistas e de pessoas pacíficas cujo protesto, em geral se reveste da forma que presenciei há cerca de quatro anos. Fui assistir a um filme romeno no Shopping Frei Caneca e, na fila da entrada, estava esse patrimônio petista. Na fila, várias pessoas, inclusive eu, consversávamos em voz alta sobre o sanguinário regime comunista romeno, lembrando que era algo semelhante o que o iluster deputado queria implantar no Brasil. De resto, quando começou a seção, Genoíno se sentou numa das fileiras do cinema e, literalmente, ninguém se sentou a seu lado, como se a proximidade com ele fosse contagiosa. E é mesmo.Tibiriçá Ramagliohttp://www.blogger.com/profile/00935626810886445109noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7849092748691281497.post-5155726260560963892013-02-05T17:20:00.002-02:002013-02-05T17:20:49.492-02:00Falar é prata, calar é ouroMe pediram para comentar a eleição de Renan Calheiros. Confesso que isso se tornou uma impossibilidade. O Congresso brasileiro é uma mistura de criminalidade e obscenidade, e, a partir da gestão lulo-petista, não faz nem questão de manter as aparências. Hoje há uma matéria no UOL sobre o desencanto de Tiririca com a vida parlamentar. Por incrível que pareça, o palhaço parece efetivamente ser o único parlamentar honesto que por lá anda. Não paga a pena pensar sobre o Congresso. Já basta o que ele, como parte do Estado, suga das minhas energias sob a forma de impostos.<br />
<br />
Na verdade, cansei de bancar o comentador. Acho que era uma coisa que eu fazia motivado essencialmente pela vaidade, vaidade que hoje em dia já não me consome. A filosofia nos liberta de muitas ilusões. Fico feliz que tenha me libertado desta. Sobra tempo para atividades mais interessantes: faz um ano que estou estudando grego como autodidata. Acabei de passar no vestibular da USP para fazer o curso de grego. Quero traduzir Aristóteles. Entre quebrar a cabeça para fazer isso e quebrar a cabeça para pensar acerca dessa canalha do Congresso, nem é preciso dizer qual é a escolha correta. Mas continuarei dando as caras por aqui, de vez em quando. Antes de mais nada, para completar o top-ten de obras filosóficas.<br />
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<br />Tibiriçá Ramagliohttp://www.blogger.com/profile/00935626810886445109noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7849092748691281497.post-41681174435926913822013-01-28T08:49:00.002-02:002013-01-28T08:49:19.090-02:004) Antropologia metafísicaMeu primeiro contato com a obra de Julian Marías foi com "Introdução à filosofia". A impressão foi forte, como é forte o texto do filósofo que a gente acaba lendo praticamente num único fôlego. Muitos anos depois li "A perspectiva cristã", que também me impressionou bastante e que li e reli várias vezes. Mas acho que a síntese do pensamento de Marías, que até certo ponto é uma sistematização do pensamento de Ortega, me parece estar em "Antropologia metafísica" que faz a gente entender melhor a paixão que está por trás do filosofar, bem como a necessidade de filosofar para (bem) estar no mundo.<br />
<br />
Aliás, neste livro, Marías afirma que é uma pena que nas principais línguas da filosofia (grego, francês e alemão) não exista o verbo "estar" que se confunde com o "ser". Marías pondera que um modo do ser, do nosso ser, é estar: só somos, se estamos. Estar é a primeira forma de instalação do ser humano no mundo, essa instalação não é somente espacial, mas também temporal (histórica). Tudo isso, claro, se resume na concepção orteguiana de que "eu sou eu e minha circunstância" e que não é possível entender a mim sem entender a minha circunstância, na qual estou ou me instalo.<br />
<br />
Mas há muito mais além da ideia de estar e de instalação. Apenas para dar um exempli, há a noção de vigência, que se refere à mentalidade que vige num lugar em determinada época. Por exemplo, as classes letradas do Brasil, marcadas pela vigência do esquerdismo, são incapazes de compreender filósofos como Marías e Ortega...<br />
<br />Tibiriçá Ramagliohttp://www.blogger.com/profile/00935626810886445109noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7849092748691281497.post-76160776489746803152013-01-15T08:17:00.001-02:002013-01-15T08:17:22.831-02:00Loteria da morteAntes de continuar a lista de obras filosóficas essenciais, uma digressão. Como todo mundo, eu adoraria ganhar na loteria (qualquer uma, federal, mega-sena, quina...). Há períodos de minha vida em que quero mais, outros menos (no momento quero muito). Às vezes, na maioria delas, tenho certeza de que não quero ganhar mais de um milhão de reais. Pelo contrário, me satisfaria com um único milhão ou ainda apenas com meio. Raramente fico me imaginando ganhador de um prêmio como o da mega da virada. É dinheiro demais, eu doaria para a Igreja boa parte dele.<br />
<br />
De qualquer modo, já faz dois anos que tenho apostado com regularidade, duas vezes por semana.<br />
<br />
Agora, acabo de descobrir que participo de outras loterias que são o contrário das loterias acima mencionadas. A primeira é a loteria da violência nacional, em que os "sorteados" morrem ou perdem seus ente-queridos para a criminalidade, em geral "de menor", que, muito bem armada e amparada por uma legislação mais criminosa do que os criminosos eles mesmos, só atira na cabeça, para matar. Trata-se de uma loteria que corre diariamente e que, num momento como o presente, em que os sorteios chegam a premiar gestantes, tem me servido como uma espécie de compensação por não ter sido sorteado nas loterias convencionais. Não ganhei na mega-sena, mas, felizmente, também não fui sorteado pela loto-crime. Por enquanto...<br />
<br />
Deixando claro que confio profundamente em meu anjo da guarda, descubro que nós, paulistas, participamos de outra loteria da morte quando vamos ao litoral, já que o litoral paulista é particularmente favorável à incidência de raios, que têm fulminado um número de pessoas proporcional ao dos ganhadores em loterias de dinheiro. Entre o mega-raio e a loto-crime, fico com esta última, que considero uma bela forma (e rápida) de morrer, descarregada, pode-se dizer, diretamente pelo Todo-poderoso. Acho que nenhum outro tipo de morte pode nos conectar tão diretamente com o Cosmos.<br />
<br />
Encerro dizendo que, tendo em vista isso tudo, acabei de aumentar o valor do meu seguro de vida, para ao menos deixar um consolo pecuniário para os que de mim dependem. É a única coisa que dá para fazer.Tibiriçá Ramagliohttp://www.blogger.com/profile/00935626810886445109noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7849092748691281497.post-37157594173844232152013-01-08T09:29:00.003-02:002013-01-08T09:31:41.772-02:003) MetafísicaEsta é provavelmente a obra mais difícil do filósofo, mas é a que fundamenta, ao lado da Física, o pensamento aristotélico. Não é uma leitura simples e eu confesso que só consigo ter algum entendimento dela a partir da leitura de estudiosos, como Giovanni Reale e Enrico Berti. O vislumbre que o filósofo tem de Deus, no livro lambda, capítulo 7, é iluminado e poético, um raro momento poético na escrita árida das obras de Aristóteles que chegaram até nós, as quais, destinadas ao uso no Liceu, não foram elaboradas literariamente.<br />
<br />
Como quero fazer desta lista uma espécie de sugestão para os que têm interesse em conhecer filosofia, sugiro que quem quer começar a conhecer Aristóteles não comece pela Metafísica, mas pela Ética a Nicômaco, que é muito mais acessível. Eu a li na tradução de Edson Bini, que é a mais facilmente encontrada nas livrarias, mas não sei até que ponto é uma boa tradução. Meus conhecimentos de grego ainda não permitem fazer uma avaliação. Para quem lê inglês, a edição das obras completas do filósofo da Universidade de Oxford é o canal.<br />
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Apesar de ter começado a estudar Aristóteles por meio dos livros de Giovanni Reale, que é assumidamente mais platônico do que aristotélico, eu acabei ficando mais aristotélico do que platônico e, por extensão, mais propenso a entender que, filosoficamente, São Tomás superou Santo Agostinho, apesar da experiência humana deste último me parecer superior à do primeiro. Por outro lado, é bom lembrar que São Tomás teve uma experiência extática no fim da vida que o fez considerar de valor secundário tudo que escreveu, concluindo, como Agostinho, que o Amor sobrepõe-se à Razão.<br />
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Convido meus leitores a incluírem São Tomás de Aquino em suas orações. Tenho a impressão que, sendo considerado precipuamente pelo ponto de vista filosófico, São Tomás acaba sendo negligenciado como santo. É uma tremenda injustiça. <br />
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<br />Tibiriçá Ramagliohttp://www.blogger.com/profile/00935626810886445109noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7849092748691281497.post-45898711419378488042012-12-24T09:35:00.000-02:002012-12-26T06:37:41.631-02:00O criticastro<div class="MsoNormal">
Dos diversos descompassos socio-ideológicos característicos
do Brasil, um que deveria chamar bastante atenção é o beletrismo e deveria
chamar a atenção porque salta à vista a excessiva e peculiar valorização da
literatura, num país com 75% de analfabetos funcionais. Creio que aqui a
literatura tem sido, historicamente, uma forma de as elites letradas
(particularmente de classe média) se autoafirmarem num contexto de concorrência
social muito acirrado.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O protótipo do beletrista a que me refiro foi muito satirizado
no início do século XX pelos modernistas, que o identificavam com o poeta – ou
poetastro – parnasiano. Ironicamente, o ponta de lança da vanguarda modernista,
Oswald de Andrade, nunca passou de um beletrista, pois, com o sinal trocado,
perseguia os mesmos ideais esteticistas de um Alberto de Oliveira ou de um
Olavo Bilac. Mas é claro que chamar Oswald de Andrade de poetastro em certos
meios que detêm a hegemonia ideológica sobre os estudos literários seria
considerado um caso de polícia ou de patrulha... ideológica.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Não importa. O que me interessa aqui é falar de um outro
tipo beletrista que parece ter alcançado o mesmo patamar de prestígio entre as
elites letradas (particularmente de classe média) que o velho poetastro:
trata-se do criticastro, o literato para quem a crítica literária se sobrepõe à
literatura e também a sobrepuja. Como sou particularmente avesso à crítica
literária, que considero um ramo da Estética (e que, como tal, só poderia ser
desenvolvida por quem tem formação filosófica), não vou me meter a traçar um
histórico dos criticastros no país, mas creio que essa é uma história que
poderia ser dividida em A.A.C. e D.A.C., antes e depois de Antônio Cândido, que
personificou a crítica literária no país sabe-se lá há quantos anos. Antônio
Cândido, creio, como José Sarney, não há de morrer jamais...</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Os criticastros de primeira linha refugiaram-se nas
Universidades dando continuidade à tradição do intelectual funcionário público
que se implantou no país desde dom João VI. Até meados dos anos 80,
pontificavam não só nas cátedras como nos cadernos de cultura. Hoje, o
jornalismo parece atraí-los menos, de modo que o vazio por eles deixado foi
ocupado por outros oportunistas. Não creio que seja necessário descrever
propriamente o criticastro, acho que a expressão é autoexplicativa, mas basta
ler os artigos que pululam no Caderno 2, no Sabático (!), na Ilustrada e na Ilustríssima,
cujo traço básico é a evidente afetação de erudição, para saber o que pensa o
tipo, caso se possa chamar isso de pensamento. Seu denominador comum é a pretensão de compreender de modo único e especial a sensibilidade humana.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O que me parece mais interessante no fenômeno é o fato de os
criticastros considerarem que a literatura de ficção continua a ter a mesma
importância social que desfrutou no século XIX, antes do advento do cinema e da
TV. É evidente que não tem, o que é uma pena por um lado, mas só por um lado...
Por outro, considerando a grande maioria dos textos de ficção e crítica literária
publicadas no Brasil de hoje, é até bom que não tenha.</div>
Tibiriçá Ramagliohttp://www.blogger.com/profile/00935626810886445109noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7849092748691281497.post-421289431944352542012-12-21T11:36:00.000-02:002012-12-21T11:36:16.639-02:002) GórgiasNão posso afirmar que seja um leitor de Platão. Li uns poucos diálogos do filósofo. O que mais me atraiu foi o Górgias, que tematiza a retórica e a linguagem. Acho que me atraiu justamente por isso. Eu o li pela primeira vez no início dos anos 80, numa edição da Cultrix, se não me engano em traducão do Jayme Bruna, que comenta o texto em notas de rodapé. Procuro há algum tempo essa edição em sebos, mas sem sucesso. É uma pena.<br />
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A propósito de Platão, tenho a ousadia de afirmar que ele é o modelo primeiro de inúmeros intelectuais que criam, em pensamento, uma realidade paralela à verdadeira realidade e perdem a capacidade de ir a fundo na realidade (o que foi feito posteriormente, por Aristóteles). A teoria das formas não chega a ser o leito de Procusto que é o marxismo ou a psicanálise, mas está quase lá. Não por acaso Popper coloca Platão como modelo originário dos inimigos de uma sociedade aberta.<br />
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O desvio da realidade em que incorreu o pensamento platônico é evidentemente um risco a que se submetem todos os que procuram estabelecer sistemas filosóficos perfeitos. Um caso atual que merece ser comentado é o do anti-gramscismo. Assim como Gramsci via em tudo uma artimanha de dominação da sociedade capitalista, pensadores de direita cometem agora o mesmo erro com sinal trocado, vendo em tudo que ocorre uma artimanha da revolução gramsciana.Tibiriçá Ramagliohttp://www.blogger.com/profile/00935626810886445109noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7849092748691281497.post-37889673296863039682012-12-18T16:39:00.000-02:002012-12-18T16:39:48.778-02:001) Apologia de SócratesComo prometido, dou início ao meu "top ten" de textos filosóficos, começando pelo começo. A apologia de Sócrates é, no meu entender, uma verdadeira introdução à filosofia, naturalmente melhor que muitas introduções que há por aí, porque é uma introdução à filosofia, pode-se dizer assim, por ela mesma, sendo que esse "ela" vale tanto para "filosofia" somente, quanto para expressão "introdução à filosofia", pois, na apologia de Sócrates, a filosofia, no sentido estrito, se inaugurava e se introduzia na vida do homem.<br />
<br />
Não vou dizer, naturalmente, que não haja outras introduções à filosofia que não devam ser lidas. Julián Marías tem uma que é fantástica. Recentemente, li "A short introduction to philosophy", de Robert G. Olson que também me impressionou muito, porque é uma obra extremamente clara e que não aborda a filosofia por uma perspectiva histórico-cronológica. Mas se alguém quiser saber, em primeira mão, de onde se origina a paixão pela sabedoria e o método do pensamento grego, tem de recorrer à apologia de Sócrates.Tibiriçá Ramagliohttp://www.blogger.com/profile/00935626810886445109noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7849092748691281497.post-67086527202250780432012-12-14T15:23:00.000-02:002012-12-14T15:23:01.629-02:00The luck of Barry LyndonLi há uns 20 dias "The luck of Barry Lyndon", de Thackeray. Li em português, numa edição do Círculo do Livro, que saiu na cola do filme de Stanley Kubrick. O filme, naquela ocasião, foi para mim uma verdadeira paixão. Assiti umas quatro vezes (no cine Belas Artes), sem me afligir com os seus 180 minutos de duração. Mas vamos por partes... Gostei demais do romance, embora jamais o colocasse entre os meus dez favoritos. A tradução me pareceu boa, no sentido de que a prosa em português é escorreita, mas não comparei com o original. De qualquer forma, fiquei fã do Thackeray e pretendo ler brevemente, no original, para ter certeza, "Vanity fair".<br />
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Em função da leitura do livro, comprei o filme em DVD. Não chegou a ser uma decepção, mas a impressão que me deu foi que Kubrick força uma interpretação esquerdista do romance, que redime o protagonista de sua canalhice. Barry, no filme, é um escroque, mas, comparado à aristocracia que o rodeia, merece a complacência do espectador. Tem inclusive um gesto nobre ao poupar a vida do enteado (filho do primeiro casamento de sua esposa) por quem é desafiado para um duelo. Esse final é de Kubrick, não está em Thackeray, onde Barry não pouparia a vida enteado, nem de ninguém.<br />
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Em Thackeray, Barry Lyndon é o que é: um herói sem nenhum caráter, mas herói no sentido de protagonista, sem julgamento de valor, ao contrário do Macunaíma, em que a falta de caráter faz do protagonista um herói, no "parti pris" de Mario de Andrade. Thackeray apenas narra ou deixa o seu personagem narrar, ficando a cargo do leitor o julgamento final. Claro que uma certa simpatia pelo protagonista é inevitável, pelo desplante com que ele mesmo se julga sempre positivamente, com justificativas que lhe parecem plausíveis para todas as suas canalhices.Tibiriçá Ramagliohttp://www.blogger.com/profile/00935626810886445109noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7849092748691281497.post-23687569364922961372012-12-14T14:58:00.002-02:002012-12-14T14:58:17.495-02:0010) O processoEncerro com mais um livro inacabado, que, na minha opinião, é intrinsecamente inacabado. "O processo", talvez, não fosse tão bom, se tivesse um final. É uma metáfora da condição humana, com um certo ressentimento metafísico contra o pecado original, talvez pelo fato de a ideia de pecado original ser a mesma ideia que preside "O processo", tendo sido consignada muito antes de Kafka se dar por gente. É também um livro essencialmente trágico, mas, ao mesmo tempo, tem tantos aspectos cômicos que a gente fica na dúvida se existe tragédia ou se tudo não passa de uma grande comédia.<br />
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Ele entra por último na minha lista, mas talvez, se fôssemos julgar pela riqueza de conteúdo, acho que ele só fica abaixo da Odisseia e do Quixote. Ele é superior a todos os outros, sem dúvida. Esclareço que não gosto muito de Kafka: "A metamorfose" não me diz muita coisa e "O Castelo", para mim, é uma variação sobre o mesmo tema de "O processo", sendo que neste Kafka foi mais feliz. Paro por aqui. Brevemente vou fazer uma lista dos meus "top ten" em matéria de filosofia.Tibiriçá Ramagliohttp://www.blogger.com/profile/00935626810886445109noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7849092748691281497.post-21269794892719086572012-12-09T07:23:00.002-02:002012-12-09T07:23:48.789-02:009) A consciência de ZenoItalo Svevo entra aqui em nono lugar, mas, como já disse, a ordem desta lista não implica um gostar mais dos primeiros colocados. Adoro este romance, que li e reli várias vezes, sendo que a primeira dela numa das primeiras vezes que tentei parar de fumar. Foi a tentativa de parar de fumar que levou um amigo, o Heitor, hoje já falecido, a me apresentar a Zeno. A primeira parte da obra narra as tentativas frustradas da personagem para deixar o tabaco. É hilário.<br />
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Zeno é com certeza parente de Brás Cubas e do impostor Felix Krull. Impossível não se apaixonar por seu cinismo, que tem como alvo, entre outros, a psicanálise. Gosto muito de uma anedota da última parte do livro, que transcrevo a seguir. Zeno, já velho, dá em cima de uma criada, nova e muito bela, que resiste ao assédio. Zeno lhe pergunta: "quando é que as jovens vão gostar dos velhos?" A garota responde: "provavelmente quando ficarem velhas". E Zeno: "mas aí os velhos não vão mais gostar delas".<br />
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Por falar em anedotas, um caso biográfico: Svevo teve aulas particulares de inglês com James Joyce.Tibiriçá Ramagliohttp://www.blogger.com/profile/00935626810886445109noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7849092748691281497.post-30839151224567657572012-11-30T10:38:00.003-02:002012-11-30T10:38:38.496-02:008) As confissões do impostor Felix KrullMais um romance inacabado vem integrar a minha lista: "As confissões do impostor Felix Krull", de Thomas Mann, cujo narrador-personagem é tão machadiano que a gente fica se perguntando se o autor, filho de uma brasileira, falava português e teria lido o nosso Machado. Confesso que nada sei da biografia de Mann, além da nacionalidade da mãe dele. Se jogo o nome do escritor e a palavra biografia no buscador da minha memória, o que vem a tona é o ensaio biográfico sobre Schopenhauer que ele escreveu. Mais nada.<br />
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Krull é, como o título diz, um impostor. Originário de uma família de classe média baixa, vê a oportunidade de viver como granfino quando um nobre que é também seu sósia se vê na necessidade de mudar de identidade. A primeira estripolia de Krull é em Portugal. Infelizmente, o livro se encerra quando ele está pensando em viajar para a América do Sul. Ia para Buenos Aires que, na época, era uma cidade rica e europeia. Infelizmente, para todos nós, a obra se encerra por aí. Uma vez pensei em escrever um conto sobre a passagem de Krull pelo Rio de Janeiro, mas nunca levei a ideia adiante.<br />
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Antes de encerrar, gostaria de incluir como hors-concour a trilogia "José e seus irmãos", em que Thomas Mann faz uma magnífica viagem pelo mundo do Velho Testamento, de Abraão a José. Gosto mais do primeiro volume, cujo capítulo introdutório é um ensaio sobre Deus como uma descoberta/invenção de Abraão. Seguem as aventuras de Jacó que são também fantásticas, por elas mesmas e pelo estilo primoroso de Mann. O livro nos aproxima dessas personagens bíblicas de que todos descendemos. <br />
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Uma curiosidade: Mann é desses autores muito citados, mas não sei até que ponto verdadeiramente lidos. No caso de "José e seus irmãos", encontrar o primeiro volume da trilogia foi bastante difícil antes do advento da Estante Virtual. O primeiro volume estava esgotado nas livrarias, mas os outros dois não, o que me faz supor que as pessoas começavam a leitura, mas não a levavam até o fim. Tibiriçá Ramagliohttp://www.blogger.com/profile/00935626810886445109noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7849092748691281497.post-10436713455866038012012-11-19T13:02:00.002-02:002012-11-30T06:14:13.393-02:007) Fogo MortoEsse é um dos maiores romances da literatura brasileira e José Lins do Rego é em tudo superior a Graciliano Ramos, fato que só não é divulgado por causa do lobby esquerdista, que puxa a brasa para Graciliano. Sem chatices estilísticas, a prosa de Zé Lins é saborosíssima e, em Fogo Morto, ela traça o perfil de três personagens extraordinários, mestre José Amaro, coronel Lula de Holanda e capitão Vitorino. Este último é uma espécie de Quixote paraibano, construído com tal maestria que ganha, na imaginação do leitor, a mesma vivacidade do Quixote manchego. É impossível não se emocionar.<br />
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Li "Fogo Morto" duas vezes. A primeira, na faculdade, fazendo curso sobre o Regionalismo com José Aderaldo Castello, conterrâneo de Zé Lins, um professor daqueles como não se encontra mais hoje em dia, com formação sólida e conhecimento profundo do tema de seu curso. Castello, Alfredo Bosi e Décio de Almeida Prado eram uma tríade como tão cedo a Letras da USP não terá outra, pois os estudos de literatura brasileira, como já disse anteriormente, estão completamente mortos na USP, vítimas do marxismo, do estruturalismo, do desconstrucionismo e das diversas modas que a Sorbonne envia para esse seu departamento de além-mar.Tibiriçá Ramagliohttp://www.blogger.com/profile/00935626810886445109noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7849092748691281497.post-72223417132573397932012-11-14T19:34:00.002-02:002012-11-14T19:34:31.955-02:00René GiradAntes de dar sequência à lista dos meus romances favoritos, faço uma pausa para contar que acabo de ler "Eu via Satanás cair como um relâmpago", de René Girard, cuja obra até então eu desconhecia por completo. É fascinante.<br />
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Tivesse eu lido esse ensaio antes de escrever "A revolução cristã" e teria mais argumentos para comprovar a minha ideia de que o cristianismo promoveu uma revolução antropológica, recriando a humanidade. Contento-me em perceber que minhas ideias se aproximam às de um pensador do porte de Girard e fico tentado a desenvolver um novo capítulo do meu ensaio levando em consideração as constatações girardianas.<br />
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Registro a intenção aqui para não perdê-la de vita, mas não creio que, no momento, eu possa fazer isso, porque estou envolvido com outros textos cuja tradução estou fazendo. Aliás, tendo traduzido muito hoje, estou muito cansado para continuar escrevendo. Só não posso perder a oportunidade de dizer que bom seria se os petistas condenados pelo mensalão pensassem como o Ministro da Justiça... Tibiriçá Ramagliohttp://www.blogger.com/profile/00935626810886445109noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7849092748691281497.post-24145023990730679392012-11-13T09:21:00.002-02:002012-11-13T09:21:40.578-02:00Cédulas atéias e a toaSobre esse promotor fundamentalista que desenvolve uma cruzada antirreligiosa, não quero deixar de dizer uma palavra. Na minha opinião, esse insensato está escrvendo certo por linhas tortas. Acho que a(s) Igreja(s) deveriam concordar com ele e exigir a retirada da expressão "Deus seja louvado" das notas brasileiras. O santo nome do Senhor não deve ser tomado em vão e não há nada mais vão do que o dinheiro, particularmente o nosso. O dinheiro é o príncipe <i>deste</i> mundo. Louvar Deus nas cédulas me parece ir de encontro ao ensinamento de Jesus sobre o tema, ao levar seus questionadores a constatar a efígie de César na moeda e ensinar que se deve dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Ademais, a frase aí está por obra e graça do senhor José Sarney, um dos políticos mais diabólicos de nossa história recente. Credo!!! Que as cédulas sejam atéias, além de a toa. Tibiriçá Ramagliohttp://www.blogger.com/profile/00935626810886445109noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7849092748691281497.post-24131068799134691932012-11-13T09:11:00.001-02:002012-11-13T09:11:04.072-02:006) Quincas BorbaDos cinco romances da chamada segunda fase de Machado de Assis, o meu favorito é o "Quincas Borba". O diferencial, para mim, é o fato de o romance ser narrado em terceira pessoa, ao contrário dos outros. Acho que "Esaú e Jacó" é narrado em terceira também, mas não me impressionou tanto. Agora, confesso que prefiro não falar de Machado de Assis e, aliás, nem de literatura brasileira. A crítica literária que predomina no Brasil de hoje, seja na imprensa, seja na universidade, é tão boçal, que transformou a reflexão sobre a literatura brasileira em picuinha e em masturbação.<br />
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Está cheio de resenhista por aí que se julga crítico literário e está cheio de crítico literário por aí que se julga filósofo ou cientista político. Das patacoadas mais recentes, menciono o imbróglio do prêmio Jabuti deste ano, com que me diverti horrores, pois conheço pessoalmente o insensato que a revista Veja chamou de "jurado malandro", bem como a insensata que o conduziu ao júri. Rir de nossos desafetos é, por sinal, algo bem machadiano. Então, vamos rir e deixar as graves considerações sobre literatura brasileira para essa patota. Estou fora. Fica o registro somente: adoro o "Quincas Borba" que, enquanto estilo e arquitetura, me parece o romance mais bem acabado do fundador da ABL.<br />
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<br />Tibiriçá Ramagliohttp://www.blogger.com/profile/00935626810886445109noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7849092748691281497.post-49264267681766122952012-11-09T08:12:00.003-02:002012-11-09T08:12:51.334-02:005) Bouvard e PécouchetEste romance que Flaubert não terminou de escrever (morreu antes), cujos personagens título são uma versão oitocentista do Quixote e Sancho Pança (até fisicamente), é uma crítica colossal ao conhecimento humano, desenvolvido pioneiramente, num momento em que o cientificismo se impunha à mentalidade europeia. Fariam bem os cientistas atuais, especialmente os biólogos que gostam de dar palpites em matéria filosófica, se lessem o romance e redescobrissem, por via da sátira, a máxima socrática do só sei que nada sei.<br />
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Em "Bouvard e Pécouchet", os personagens-título acabam ganhando tanta força para o leitor, que parecem pessoas reais, de cuja vida compartilhamos, à medida em vamos lendo. Existem vários trechos em que temos de parar a leitura para rir. Entre os mais hilários, está o episódio em que Bouvard e Pécouchet tomam ciência do conceito de símbolo fálico, com o que passam a identificar tudo o que veem, trocando entre si olhares e risadinhas significativas. Até onde eu sei, é um romance que não foi levado muito a sério, justamente por ser tão corrosivo. Na minha opinião é de longe superior a "Madame Bovary". Tibiriçá Ramagliohttp://www.blogger.com/profile/00935626810886445109noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7849092748691281497.post-1981238575658721072012-11-07T05:21:00.003-02:002012-11-07T05:21:41.444-02:004) Almas MortasEis o primeiro romance inacabado da lista. Há outros. Li há muito tempo. Para ser preciso, em 1989. Na ocasião, eu era petista e, com a vitória de Erundina, fui chamado a compor a assessoria de imprensa da CMTC, onde fiquei seis meses e pedi demissão.<br />
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Por quê? Porque estava lendo "Almas Mortas", onde há um capítulo em que Gogol descreve uma repartição pública e a burocracia da Rússia de seu tempo de modo tão corrosivo, que eu não aguentei permanecer numa repartição pública e fazer parte da burocracia de meu tempo.<br />
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Ah, vá! Pediu demissão por causa de um livro? Pois é, naquele tempo, eu não pensava duas vezes antes de mandar um emprego para o espaço, mas a ousadia me custou caro, pois troquei um ótimo salário de assessor por um de professor da rede pública, num momento de grande arrocho salarial, sob a hiperinflação de Sarney. Cá estou, contando minha vida, em vez de falar de "Almas Mortas", talvez ainda sob a influência de Sterne.<br />
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Para quem não leu, "Almas Mortas" conta a história de um picareta, Pavel Ivanovitch Tchitchicov, que inventa um golpe para ganhar dinheiro e prestígio. No meio da trama, um dos personagens narra "a história do capitão Kopekin", que é uma sátira dentro da sátira, também inesquecível. Preciso reler "Almas Mortas".<span style="-webkit-text-size-adjust: auto; -webkit-text-stroke-width: 0px; background-color: white; color: black; display: inline !important; float: none; font-family: sans-serif; font-size: 13px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; letter-spacing: normal; line-height: 19.200000762939453px; orphans: 2; text-align: start; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;"><br /></span>Tibiriçá Ramagliohttp://www.blogger.com/profile/00935626810886445109noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7849092748691281497.post-86925466826870266772012-11-06T06:10:00.002-02:002012-11-06T06:10:39.815-02:003) A vida e as opiniões do cavalheiro Tristram ShandyPara fazer juz ao livro, eu deveria abrir aqui parênteses e mudar de assunto, perdendo-me numa série infinita de digressões, como faz Sterne. Falar, por exemplo, dos 120 anos que o viaduto do Chá completa hoje, tema instrinsecamente vinculado aos nomes Tibiriçá e Ramaglio. Mas limito-me a dizer que li a tradução de José Paulo Paes, que um dia hei de cotejar com o original. Sterne presta tributo a Cervantes: os personagens tio Toby e seu ordenança o cabo Trim, são a versão britânica de dom Quixote e Sancho Pança. O romance é extenso e, a falta de um fio narrativo com começo, meio e fim, às vezes me dificultou a continuidade da leitura, que eu interrompi algumas vezes, para retomar depois de intervalos relativamente longos (15, 20 dias) para a leitura de um livro. Quem sabe, se eu estivesse num lugar tranquilo, sem afazeres urgentes, a leitura teria tido maior continuidade. Por outro lado, talvez o próprio Sterne tenha pensado numa leitura descontínua. De qualquer modo, é um livro imperdível. Que o diga Machado de Assis, para quem Sterne foi leitura decisiva, cujos ecos são evidentes no Memórias Póstumas de Brás Cubas.Tibiriçá Ramagliohttp://www.blogger.com/profile/00935626810886445109noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7849092748691281497.post-89256865444207445092012-11-03T06:48:00.000-02:002012-11-03T06:48:01.544-02:00Imitação de CristoTenho medo de ser mal entendido na aproximação que fiz entre Dom Quixote e Jesus no post anterior. Então, esclareço que o que eu penso é que o Quioxe foi criado sob inspiração cristã.<br />
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Recomendo a leitura do artigo <a href="http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,mensalao-e-republica-,954973,0.htm" target="_blank">Mensalão e República</a>, no <b>Estadão</b> de hoje.Tibiriçá Ramagliohttp://www.blogger.com/profile/00935626810886445109noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7849092748691281497.post-30925290278599659652012-11-02T09:22:00.000-02:002012-11-02T09:22:53.603-02:002) Dom QuixoteO segundo lugar para o "Dom Quixote" não tem nada a ver com valor da obra. Estou listando os meus dez favoritos em ordem meramente cronológica. Li e reli duas vezes o Quixote. Na primeira vez, eu devia ter 14/15 anos. Li porque havia visto o filme "The man of La Mancha", com Peter O'Toole no papel de Cervantes/D. Quixote, e Sofia Loren como Dulcinéia. Adorei o filme, que é uma adaptação de um musical da Broadway que eu tinha visto no teatro, com Paulo Autran de protagonista e Grande Othelo de Sancho Pança. No teatro não me comoveu tanto. Na telona, me conquistou. Vi o filme mais de cinco vezes e chorava quando da morte de Dom Quixote.<br />
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Bem, "The man of La Mancha" apela para o lado romântico do Quixote e era isso que eu procurava na minha primeira leitura do livro. O humor de Cervantes, porém, foi o que acabou me capturando nessa primeira leitura, embora o esplendor estilístico da prosa barroca espanhola não tenha me passado despercebido, graças à excelente tradução de Oscar Mendes e Milton Amado. Ler o Quixote é apaixonar-se por ele e, por isso, reli-o duas vezes. Sinto pena de quem não leu Dom Quixote, que é ao mesmo tempo um herói e um trapalhão. Esse caráter duplo da personagem, na minha modesta, mas não por isso menos ousada opinião, o aproxima de ninguém menos do que Jesus Cristo, ao mesmo tempo Deus e crucificado (o homem no seu maior grau de degradação).<br />
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Também acho que não deixa de existir um parentesco entre o Quixote e a Odisseia. Nesta última, o protagonista é o malandro, por assim dizer. No primeiro, o malandro é o narrador. Outra coisa que não se pode deixar de dizer quando se fala do Quixote é o caráter mitológico de que o personagem acabou se revestindo. Nesse sentido, Cervantes é o primeiro homem conhecido a criar um mito, pois toda a mitologia anterior é pré-histórica, além de se tratar de uma criação coletiva. Tibiriçá Ramagliohttp://www.blogger.com/profile/00935626810886445109noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7849092748691281497.post-78816193283704234932012-11-01T07:31:00.003-02:002012-11-01T07:31:55.620-02:001) OdisseiaAndo farto de política, mas estou com vontade de escrever. Então, começo a fazer uma lista (esta) dos meus dez romances favoritos, aqueles cuja leitura marcou minha vida. Começo de maneira herética, colocando em primeiro lugar da lista "A Odisseia", que eu li em forma de prosa, numa edição da Cultrix, cujo tradutor/adaptor agora me foge, mas descobrirei em breve. A "Odisseia", em prosa, "não é Homero", diria o professor Henrique Murasko, decano dos mestres de grego, se não me engano, ainda em atividade. Foi isso que ele me disse um dia sobre a tradução da "Ilíada", de Haroldo de Campos. Não importa, o autor do texto da edição da Cultrix certamente captou o espírito da obra e eu sempre fui mais pelo espírito do que pela letra. Como se verá pelo restante da lista, Odisseu é o paradigma de muitos dos heróis dos meus romances favoritos. Toca-me, na obra, especialmente os episódios em que ele cega o ciclope e o momento em que ele escuta o canto das sereias. Este último em especial, pois o que não falta nas esquinas deste mundo são rochedos, com sereias entoando seus terríveis cantos. Felizmente, agora as escuto como Odisseu, atado ao mastro central de minha nau, que é minha própria pessoa. Assim que der, coloco aqui a segunda obra.Tibiriçá Ramagliohttp://www.blogger.com/profile/00935626810886445109noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7849092748691281497.post-6377260664853175272012-10-30T09:46:00.002-02:002012-10-30T09:46:18.160-02:00O Pitta vermelhoQuase não tenho escrito nada não é por estar abatido com a vitória de Haddad, o Pitta vermelho, que, infelizmente, dará algum fôlego a Lula e ao PT. Mas, no fundo no fundo, pouco tenho a dizer que Reinaldo Azevedo já não tenha dito. Particularmente, gostaria apenas de concordar com ele quando diz que, ao contrário do que apregoam os vigaristas e os insensatos, Lula e o PT não foram os grandes vitoriosos dessa eleição. Concordar também com o que ele diz sobre as pesquisas e seus erros escandalosos, que só os jornalistas da imprença pogrecista não enxergam.<br />
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Mais ainda: ele tem razão quando se refere à disputa já iniciada pelo governo do Estado e sobre a aliança tácita da imprença pogrecista, do PT e do PCC. Se o governador Geraldo Alckmin tiver um pingo de juízo deve tratar de investigar essas conexões, em que talvez esteja metida até a Polícia Civil de SP, que, para mim, se tornou suspeita de colaboração com o PT desde a investigacão do assassinato de Celso Daniel.<br />
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De resto, acho que o PSDB está sem rumo, os eleitores desinteressados ou de saco cheio e é esse vácuo que tem colaborado muito com os triunfos do PT. Não quero deixar de comentar duas coisas: 1) a camisa Lacoste vermelha com que Haddad andou saracoteando por aí às vésperas das eleições, que é muito sintomática do socialismo que eles almejam, que permite aos seus burocratas usufruir o que de melhor o dinheiro pode comprar; 2) a tropa de choque que rodeou o pilantra do Genoíno durante a votação. Não é só o Chavez que tem suas milícias.Tibiriçá Ramagliohttp://www.blogger.com/profile/00935626810886445109noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7849092748691281497.post-89942492820465670852012-10-16T17:10:00.001-03:002012-10-16T17:10:42.351-03:00Nem tucanos nem petistas...Escrever é sempre correr o risco de ser mal entendido. <i>Je m'en fiche, moi</i>... De qualquer modo, é sempre bom deixar um dedinho de prosa por aqui. Hoje, porém, o dedo é alheio. Transcrevo um trecho de artigo de Carlos Melo que saiu no Estadão, no sábado passado:<br />
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"Não é exagero afirmar que, em São Paulo, os principais partidos são apenas os mais representativos dentre os poucos representativos. A elite que se debate em torno deles – nas redes sociais, por exemplo – fala de si e para si. A polarização é real? Os números não a comprovam. Parece, antes, se tratar de disputas voltadas à ocupação de espaços no Estado, descoladas da maioria. Felizmente, a maioria não se move com o combustível dessas disputas, embora tucanos e petistas suponham ser o centro do universo."<br />
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Sábias palavras! Suficientes por hoje.Tibiriçá Ramagliohttp://www.blogger.com/profile/00935626810886445109noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7849092748691281497.post-59612533075628031562012-10-11T18:02:00.002-03:002012-10-11T18:02:50.573-03:00Facebook: o mais estéril dos magistériosMe diverti com o Facebook, pouco depois que ele surgiu, e até cheguei a publicar umas coisinhas lá recentemente. Depois, a coisa foi me cansando, embora eu não deixe de dar uma espiadinha quase diária, além de jogar um pouquinho de <i>Jewels of Amazon</i>, que acho bem gostoso.<br />
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Nessa época de eleição, o Facebook é um espelho do que vai pela esgotosfera petista. Como essa gente é asquerosa! O ódio que eles nutrem por quem tomam como inimigo e as calúnias que vociferam contra eles são simplesmente uma prova de sua psicopatologia.<br />
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Outro dia, li uma entrevista do Ferreira Gullar na revista da Joyce Pacowitch, onde o poeta dizia que foi de esquerda na época em que isso dava cadeia. Agora que dá status, deixou de sê-lo. Acabei de ver no Facebook dois vendedores que eu conheço denegrindo o Serra, pois os dois – embora sua profissão seja a essência do capitalismo – se consideram socialistas.<br />
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Quando eu era estudante simplesmente não existiam vendedores de esquerda. Os vendedores eram em sua maioria apolíticos. Eu achava isso um horror, pois considerava que esse apoliticismo era uma forma perversa de alienação. Pois bem, meu horror continua o mesmo, embora agora a forma da alienção seja precisamente essa politização esquerdista.<br />
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Pior de tudo é que eles são tão burros, que não há como abrir-lhes os olhos. A inteligência que têm, elesgastam todinha inventando formas de vender o seu peixe e tentando subir na vida. Para discutir ideias, sobra-lhes somente a emoção e a capacidade de emular as ideias alheias. Por outro lado, sou cada vez mais avesso à polêmica. Acho que tudo que aprendi na vida, a duras penas, só merece ser comunicado a quem está interessado em aprender. Quem acha que já sabe, vá pontificar mais adiante, no Facebook, o mais estéril dos magistérios.Tibiriçá Ramagliohttp://www.blogger.com/profile/00935626810886445109noreply@blogger.com0